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Na era dos implantes dentários, por que ainda devemos tentar manter os dentes? Será que os implantes dentários são melhores que os dentes naturais?

Não tenho dúvida de que a Implantodontia revolucionou a Odontologia, pois permitiu que pacientes pudessem ter uma melhora significativa na saúde, na qualidade da mastigação (função) e na estética. Mas, também não tenho dúvida em afirmar que implantes nunca serão melhores que os dentes naturais. E isso deve ser esclarecido para os nossos pacientes.  Uma prótese sobre implante nunca substituirá, à altura, os dentes naturais em relação às suas propriedades físicas, mecânicas e sensoriais.
 
Outros órgãos do corpo são tão facilmente substituídos como os dentes?
 
Quando outros órgãos do corpo ficam comprometidos, muitos esforços são feitos na prevenção de mais danos ou mesmo na tentativa de revertê-los. No entanto, surpreendentemente, quando se trata dos nossos dentes, pacientes e, às vezes, profissionais de Odontologia, não parecem valorizar com a mesma intensidade as suas preservações. Esse é um fenômeno negativo porque, quanto mais dentes uma pessoa tem, maior a probabilidade de ter uma melhor qualidade de vida (Park HE et al., 2019).
 
Devemos tentar manter dentes comprometidos?
 
Mesmo dentes que apresentam tratamentos endodônticos, doença periodontal passível de tratamento e controle, ou, ainda, mal posicionados, - que podem ser corrigidos com tratamento ortodôntico -, devem ser mantidos e não substituídos. As taxas de sobrevivência e sucesso dos implantes dentários nunca serão as mesmas de dentes saudáveis e adequadamente higienizados. Os implantes devem substituir os dentes ausentes! Eles não devem substituir os dentes! (Pjetursson e Heimisdottir, 2018).
 
Mas, e se os dentes apresentarem doença periodontal?
 
A sobrevida dos dentes com doença periodontal, mas, tratados e mantidos adequada e regularmente, por meio de controle de placa, bem como acompanhamento com o cirurgião-dentista, variou de 92% a 93%. Mesmo em situações de pacientes diagnosticados com doença periodontal avançada (anteriormente conhecida como periodontite agressiva), as taxas de sucesso variaram de 60% a 88% (Graetz et al., 2011). Assim, em vez de extrair os dentes, porque parece ser uma opção de tratamento menos complicada, deve-se priorizar o tratamento periodontal, seguido de terapia de suporte adequada que consiste em visitas regulares ao cirurgião-dentista com o objetivo de reavaliar a higienização e realizar o monitoramento da doença periondontal (Levin e Halperin-Sternfeld; 2013).
 
E dentes tratados endodonticamente?
 
Uma análise de diversos artigos científicos relatou taxas de perda de dentes tratados endodonticamente, em longo prazo, variando de 3,6% a 13,4%, enquanto a taxa de perda de implantes dentários variou de 0% a 33% (Levin e Halperin-Sternfeld; 2013). Outra revisão que fez a mesma comparação, afirmou que as taxas de sucesso dos implantes dentários variaram de 73% a 95,5%, enquanto que as taxas de sobrevivência de dentes tratados endodonticamente variaram de 89,7% a 98,1% (Setzer, 2014). Concluímos, então, que, mesmo dentes tratados endodonticamente apresentam índices de sucesso maiores que os implantes.
 
Implantes dentários são uma panaceia?
 
A Implantodontia levou muitos dentistas a acreditarem que implantes seriam sempre a melhor solução, a acreditar que apresentam um prognóstico melhor do que, por exemplo, um dente comprometido; portanto, a extração dentária é frequentemente recomendada, em vez da manutenção dentária e terapia tradicional adequada por meio de raspagem, cirurgia periodontal, se necessário, e acompanhamento criterioso do paciente.
Apesar de um prognóstico previsível para implantes osseointegrados, a verdade é que complicações biológicas, como mucosite peri-implantar e peri-implantite, são comuns (Schwarz et al; 2018). Este fato é altamente subestimado.
Sou especialista, mestre e doutora em Implantodontia, e posso afirmar, baseado nos trabalhos científicos e nas avaliações periódicas de pacientes, que as filosofias do tratamento devem, sempre que possível, direcionar para a manutenção dos dentes. Se a remoção precoce de dentes comprometidos e a subsequente instalação de implantes continuar sendo o paradigma preferido, a profissão odontológica poderá perder a maior parte de sua experiência para preservar uma dentição funcional durante a vida do paciente (Lang, 2019).
 
Manutenção e controle
 
Como eu afirmei no início deste texto, a Implantodontia revolucionou a Odontologia. Existem casos de traumas, cáries profundas que já destruíram partes nobres dos dentes, doença periodontal avançada e não responsiva ao tratamento em que implantes dentários resgatam saúde, função e estética. Devolvem a esses pacientes a auto-estima e a capacidade de sorrir sem medo.
Só não posso concordar com o fato do sucesso dos implantes, nos últimos anos, nos levarem a uma diminuição na importância das opções de tratamento para manutenção dos dentes.
Independente do tratamento selecionado, um dos aspectos fundamentais para obtenção de sucesso se baseia no controle e manutenção adequados. É primordial que a boca permaneça saudável e isso significa estar livre de cáries, infecções e doença periodontal ativa. Nossos pacientes precisam entender que o principal responsável pelo sucesso do tratamento é ele mesmo, com técnicas de higienização adequadas, além da manutenção periódica no consultório, que deve variar de acordo com a necessidade de cada paciente. O acompanhamento periódico permite ao clínico detectar possíveis complicações precocemente e ajudar a evitar uma deterioração adicional (Clark e Levin, 2019).
 
Leituras sugeridas:

Clark D, Levin L. In the Dental Implant Era, Why Do We Still Bother Saving Teeth?J Endod. 2019 Dec;45(12S):S57-S65.
Lang NP. Oral Implants: The Paradigm Shift in Restorative Dentistry. Journal of Dental Research 2019, Vol. 98(12) 1287–1293.
Levin L, Halperin-Sternfeld M. Tooth preservation or implant placement: a systematic review of long-term tooth and implant survival rates. J Am Dent Assoc 2013;144:1119–33.
Park HE, Song HY, Han K, et al. Number of remaining teeth and health-related quality of life: the Korean National Health and Nutrition Examination Survey 2010-2012. Health Qual Life Outcomes 2019;17:5.
Pjetursson BE, Heimisdottir K. Dental implants - are they better than natural teeth? Eur J Oral Sci. 2018 Oct;126 Suppl 1:81-87
Setzer FC, Kim S. Comparison of long-term survival of implants and endodontically treated teeth. J Dent Res 2014;93:19–26.
Schwarz F, Derks J, Monje A, Wang HL. Peri-implantitis. J Periodontol 2018;89(Suppl 1):S267–90. 


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