Bruxismo e apertamento

Nesta
matéria, iremos discutir sobre um vilão da Odontologia: o bruxismo! Sugiro que
você comece a leitura se fazendo algumas perguntas:
1) Você range ou aperta os
dentes?
2) Você acorda com alguns
músculos da face cansados?
3) Você sente dor de
cabeça ou dor na região da articulação têmporo-mandibular?
4) Suas restaurações
fraturam com frequência?
5) Você está percebendo que os seus dentes estão
se desgastando?
6) Você tem refluxo
gastro-esofágico?
Essas são algumas perguntas que nos ajudam a
diagnosticar o bruxismo, mas, o que é essa patologia?
O termo bruxismo se origina do grego brychein, que significa ranger os
dentes. O bruxismo é uma ativação rítmica repetitiva dos músculos
mastigatórios, caracterizada pelo aperto e / ou ranger dos dentes e / ou pelo
apoio ou empurrão da mandíbula durante o sono.
Como diagnosticar o bruxismo?
Inicialmente, é preciso entender que temos dois momentos de manifestação do bruxismo: pode ocorrer durante o sono ou durante o dia, quando o paciente está acordado.
O diagnóstico do bruxismo “acordado” ou bruxismo em vigília é feito pela autopercepção, ou por questionários ou mesmo pelo exame clínico. Já o bruxismo do sono também pode ser diagnosticado pelo questionário (podemos até perguntar ao parceiro/parceira do paciente para que ele relate se observa o paciente ranger os dentes); pelo exame clínico ou ainda pode ser feito um exame de polissonografia (de preferência, com imagens realizadas durante o exame), onde podemos verificar a existência da patologia devido a microdespertares que ocorrem durante toda a noite. Tanto para o bruxismo “acordado” quanto para o bruxismo do sono, uma associação de todos os métodos de diagnóstico é sempre a melhor escolha (Lobbezoo F et al; 2012).
Por que temos bruxismo?
A ocorrência
do bruxismo quando o indivíduo está acordado está associado, principalmente, a
um aumento do nível de estresse. No entanto, o bruxismo é uma doença de
diversas causas, podendo haver uma associação de fatores locais; psicológicos
(estresse; tensão), sistêmicos (por exemplo, refluxo gastro-esofágico; uso
indiscriminado de álcool) ou ocupacionais (profissões muito estressantes), além
de genéticos (Cardoso AC; 2003).
O
bruxismo pode estar também associado a presença de distúrbios neurológicos ou psiquiátricos
(como doença de Parkinson, depressão, esquizofrenia) ou em decorrência de medicação
(neurolépticos, anfetaminas, antidepressivos inibidores da recaptação da
serotonina, cocaína). (Huynh N et al; 2007)
Quais as consequências do bruxismo?
Podem ocorrer: desgastes nos dentes; recessão
gengival; fraturas dentárias (tanto da coroa quanto da raiz); torus mandibular;
dores musculares; dores cervicais; aumento do tônus muscular; limitação de
abertura bucal; dores de cabeça; alterações articulares e próteses fraturadas e
sem prognóstico em longo prazo.
Desgaste dos dentes
E o tratamento?
De acordo com o conceito atual, uma certa quantidade de atividades motoras relacionadas ao bruxismo não é essencialmente patológica. Na abordagem de um clínico, o bruxismo do sono deve ser visto como uma condição que requer algum tratamento somente quanto tiver consequências para o sistema estomatognático (Raphael KG et al; 2016). São sugeridas diversas modalidades de tratamento para o bruxismo do sono, incluindo medicações anti-depressivas; higiene do sono; relaxantes musculares; terapia comportamental; TENs (estimulações elétricas transcutâneas); injeções nos pontos gatilho; ultrassom; acupuntura; laser e placas intraorais. As placas intraorais são frequentemente utilizadas em pacientes com bruxismo do sono, a fim de proteger os dentes de danos, resultantes do bruxismo do sono e/ou para reduzir dores de estruturas orofaciais relacionadas a ele (Narita N et al., 2009).
Além desses tratamentos, surgiu a utilização de aplicações intramusculares de toxina botulínica uma vez que ela inibe a liberação de acetilcolina nos terminais nervosos motores, levando a uma diminuição da contração muscular. No entanto, uma revisão sistemática recente demonstrou que os resultados deste tratamento ainda não têm evidência comprovada (Agren M et al; 2020). Contudo, resultados promissores foram mostrados em estudos individuais e mais pesquisas nessa área são necessárias (agren M et al; 2019).
Placa Oclusal
Leituras sugeridas:
Ågren M, Sahin C, Pettersson M. The
effect of botulinum toxin injections on bruxism: A systematic
review. J Oral Rehabil. 2019
Nov 26. doi: 10.1111/joor.12914
Cardoso, AC. Oclusão- Para você e para mim.
Editora Santos, 2003.
Huynh
N, Manzini C, Rompré PH, Lavigne GJ. Weighing the potencial effectiveness of
various treatments for sleep bruxism. J Can Dent Assoc. 2007; 73(8):
727-30.
Jokubauskas L, Baltrušaitytė A, Pileičikienė G .Oral appliances
for managing sleep bruxism in adults: a systematic
review from 2007 to 2017. J Oral Rehabil. 2018
Jan;45(1):81-95
Lobbezoo F, Ahlberg J, Glaros A, Kato T,
Koyano K, Lavigne G, et al. Bruxism defined and graded: an international
consensus. J Oral Rehabil. 2012;40:2–4.
Narita N, Funato M, Ishii T, Kamiya K,
Matsumoto T. Effects of jaw clenching while wearing na occlusal splint on
awareness of tiredness, bite force, and EEG Power spectrum. J Prosthodont Res.
2009; 53(3): 120-5
Raphael
KG, Santiago V, Lobbezoo F. Is bruxism a disorder or a behaviour? Rethinking
the international consensus on defining and grading of bruxism. J Oral Rehabil.
2016;43:791–798.